Março chegou ao fim e RENAMO não concretizou ameaça de governar à
revelia das autoridades centrais as províncias onde afirma ter sido o
partido mais votado em 2014.
O mês de março já terminou e a RENAMO não começou a governar à força as
seis províncias moçambicanas onde diz ter obtido a maioria nas eleições
de outubro de 2014.
Por outro lado, a guerra não assumida oficialmente prossegue e não há
sinais de pressa na resolução da crise política entre este partido e o
Governo da FRELIMO. A DW África entrevistou sobre o assunto o
especialista moçambicano em boa governação Silvestre Baessa.
DW África: A imagem da RENAMO "fica por terra" por não ter
cumprido com a ameaça de governar, a partir de março, as seis províncias
moçambicanas?
Silvestre Baessa (SB): Convém notar que esta não é a
primeira vez que a RENAMO estabelece prazos e faz promessas com prazos
muito específicos em relação às suas exigências e creio que na grande
maioria das situações nunca foi capaz de as concretizar. Neste caso em
particular era uma exigência gigantesca de tal modo que tendo em conta a
experiência da RENAMO isso configura e enquadra-se dentro daquilo que
podemos considerar a estratégia de propaganda da RENAMO que tem feito
parte de todo esse processo politico-miolitar que está a ocorrer e a
RENAMO vai utilizando os argumentos que tem a seu favor. Por um lado,
tendo em conta os níveis de popularidade e por outro, a necessidade de
apresentar a todos os seus seguidores algo que lhes dê alguma confiança
em relação à esta pretensão pós-eleitoral.
DW África: A RENAMO tem vindo a público denunciar ataques
violentos e constantes por parte do exército governamental. Isto
significa que a RENAMO está fragilizada?
SB: Quanto mais este conflito perdurar mais confiança a
RENAMO vai ganhar. Esse é o ponto. Toda estratégia do Governo foi de
uma inclinação muito rápida. Depois do cerco ao líder da RENAMO na
cidade da Beira o Governo tinha anunciado uma campanha generalizada
visando desarmar a RENAMO e conquistar as chamadas bases daquele
partido. Até agora tudo que se tem visto é apenas um conjunto de
eventuais ex-guerrilheiros da RENAMO que estão a entregar-se às
autoridades. Mas muito pouco se fala em relação às grandes descobertas
de equipamentos militares e grandes ações no âmbito das atividades
operacionais da RENAMO. Isso pressupõe que a máquina militar da RENAMO,
que já era fragilizada uma vez decorrentes do Acordo Geral de Paz e de
muitos anos de paz, esta máquina militar é ainda efetiva . Daí, os
contantes ataques que a RENAMO vai levando a cabo um pouco por todo o
país. Por outro lado, quanto mais tempo essas operações decorrerem e
quanto maior for a dificuldade do Governo conseguir uma vitória total em
relação aos homens armados os níveis de confiança na RENAMO vão
aumentar.
Então vamos ter ações militares em muitas partes do território
enquanto neste momento estão localizadas na zona centro do país com
algumas atividades na zona sul de Moçambique. Mas note-se que o norte,
sobretudo Nampula e Zambézia, poderão ser no futuro atingidos, caso as
forças governamentais não consigam parar definitivamente com a RENAMO. É
preciso dizer que a RENAMO não necessita de muita coisa para ser
militarmente ativa. É uma guerrilha experimentada liderada por oficiais
experientes e por outro lado é um ícono de popularidade significativa
nas zonas rurais e qualquer movimento com apoio popular é dificilmente
derrotado.
DW África: As negociações no Centro de Conferências Joaquim
Chissano foram interrompidas. Um diálogo entre o líder da RENAMO e o
Presidente de Moçambique também não tem data marcada. O que deve
acontecer para que se saia desta fase de estagnação que já dura há muito
tempo?
SB: Neste momento tendo em conta as evidências a opção
continua a ser a militar. E enquanto os generais de ambos os lados
continuarem a acreditar que esta opção tem um efeito significativo, como
algum enfraquecimento do adversário, esta vai continuar a ser
defendida. Porque, por um lado, sobretudo do lado do Governo parece-me
que o Nyusi pacificador, o Nyusi homem da paz, começa a perder alguma
capacidade de impor o seu discurso dentro do Governo. Finalmente e tendo
em conta a experiência não só de Moçambique mas de muitos outros
países, a paz não tem de ser necessáriamente a primeira opção para a
resolução de conflitos. O diálogo tende a ser não a primeira mas a
última opção. Deutsche Welle
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