Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, foi nomeada pelo pai
para chefiar a petrolífera estatal, Sonangol. A nomeação está a gerar
polémica.
Isabel dos Santos assegurou que a nova equipa de gestão implementará um "novo modelo para o setor petrolífero" no país.
A equipa pretende ainda aumentar a rentabilidade da petrolífera,
garantir a transparência na gestão e melhorar as relações com os
fornecedores, depois de sofrer, em 2015, uma queda das receitas de 34%
em relação a 2014, sobretudo devido à quebra do preço do petróleo no
mercado internacional.
Mas a nomeação de Isabel dos Santos está a gerar polémica. Um grupo de
juristas angolanos estuda a hipótese de impugnar judicialmente a
nomeação da empresária angolana para presidente do conselho de
administração da Sonangol "por improbidade pública", avança a agência de
notícias Lusa.
Em entrevista à DW África, o economista Carlos Rosado de Carvalho também questiona esta nomeação.
DW África: Isabel dos Santos é a pessoa adequada para chefiar a Sonangol?
Carlos Rosado de Carvalho (CR): Se fosse eu a escolher,
provavelmente seria das últimas pessoas que escolheria. Se fosse
Presidente da República e tivesse uma filha, ainda por cima empresária,
com negócios, não o faria. Estamos na presença de uma decisão que deixou
muita gente consternada, incrédula. Não estão em causa as qualidades
profissionais de Isabel dos Santos, o que está em causa é que Isabel dos
Santos é filha do Presidente da República, que a nomeou. E Isabel dos
Santos tem negócios que são, de alguma maneira, conflitantes com a
posição de presidente da Sonangol, porque se trata de um cargo que exige
disponibilidade total das pessoas e não é este o caso.
DW África: Isabel dos Santos disse ter traçado uma
estratégia: que é preciso cortar na produção e otimizar os recursos.
Passa por aí a solução?
CR: Não conheço os detalhes, mas já a administração
anterior dizia que o modelo da Sonangol estava falido. É uma evidência
que a Sonangol precisa de uma reestruturação e de melhoria de
eficiência. Mas o que está em causa é a nomeação da filha do Presidente
da República para a maior empresa nacional e, sobretudo, num contexto em
que um outro filho do Presidente da República gere o Fundo Soberano. Há
aqui alguma coisa que francamente não está bem e que afeta a reputação
externa do país, numa altura em que, por exemplo, o sistema financeiro
angolano está a ser isolado, não há bancos que queiram fazer negócios
com Angola, foi suspensa a venda do dólar... Acho que esta decisão vem
piorar e agravar as coisas, embora não seja uma decisão diretamente
relacionada com o sistema financeiro. Acho que esta nomeação vem dar
razão àqueles que já tinham alguma desconfiança relativamente ao modelo
de governação em Angola.
DW África: Em que medida aumenta agora o poder de influência de Isabel dos Santos com esta nomeação?
CR: Provavelmente vão dizer que Isabel dos Santos não é
presidente executiva, é a presidente do Conselho de Administração e não
é executiva. Eu não sei também quem escolheu os admnistradores, não
conheço as pessoas, seguramente são muito competentes. Mas quando se
trata de uma figura com um peso político e empresarial de Isabel dos
Santos é ela que vai mandar e, aliás, vai responder diretamente ao
Presidente da República, como acontece em todos estes casos. Portanto,
está tomada a decisão, que é eventualmente irreversível embora as
pessoas devam reclamar, por isso vamos ver e escrutinar. Dou-lhe um
exemplo concreto: Quando o engenheiro Filomeno dos Santos foi proposto
para presidente do Fundo Soberano, uma das promessas foi que a gestão
seria transparente e o próprio fundo tem divulgado o ranking da
transparência, em que, aparentemente, o fundo está bem classificado, mas
a verdade é que não conhecemos as contas do Fundo Soberano. Estamos em
junho e o Fundo Soberano ainda não publicou as contas de 2015. Tudo isto
é muito estranho e, francamente, lamento que seja este o rumo que o
país está a tomar. Deutsche Welle
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